segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os funerais do coelho branco


Vocalista do Dance of Days, banda de hardcore de São Paulo, escreveu uma auto biografia em formas de poemas, legal né?. Pois é, eu recomendo. Confira um dos contos abaixo.

Um dos seus poemas vividos:

Quando eu era criança tinha uma mulher velha que jogava um palito de fósforo aceso no café e via o futuro na mancha que fazia quando o palito apagava.
Sempre me levavam lá pra tirar quebrante.
Ficava nessa mesma rua aqui da quitanda.
Acho.
Tipo mais lá pra baixo.
Uma vez eu tomei um fora na escola e chorei em casa.
Minha mãe achou que era quebrante.
A velha jogou o fósforo.
Falou que era amor.
No dia seguinte foi a mesma merda.
Botei a culpa na velha.
Depois com o tempo descobri que o problema era o café.
Porque café não tem nada a ver com amor.
Café desce rasgando e te deixa ligado.
Amor não.
Amor é tipo leite.
Tem prazo de validade curto e azeda muito rápido.
E longa vida tem conservante.
Uma mentira embalada.
Só parece seguro porque está em uma caixinha.
Depois que abre é igual a qualquer outro.
Não sei como chorei por aquela ridícula da escola.
Ela era horrível.
Amor é tipo isso, derivado de leite com embalagem bonita na geladeira do mercado.
Você quer muito, as vezes fica doente de vontade, mas depois que bebe vê que nem foi tudo aquilo.
E sem as embalagens, no fundo, danone, queijo, manteiga... é tudo a mesma merda.
Fica lá em você boiando até sumir.
Teu corpo absorve o bom.
E o ruim vai embora.